domingo, 27 de junho de 2010

Leite em pó


Dizem que há mulheres mal amadas. Isso exclui aquelas que não desejam ser amadas. Há a opção. É isso o que ela prefere: o não amor. Sem pensar no que poderia ser pior, casou-se com quem não poderia ter problemas. Na época não estava apaixonada por aquele homem e por isso mesmo apaixonou-se pela ideia de não sofrer.

A mulher sempre procurou a tranquilidade de um bom lar, afinal, queria o melhor para a sua filha. Os gemidos do marido durante a noite ela tolera em silêncio. O jeito que o macho bafora durante o acasalamento ela tolera. O modo como o animal mastiga de boca aberta ela tolera. Tudo em prol de sua cria.

O que não sabia controlar dentro de si é a ansiedade que só passa com uma boa xícara de café. Os dedos dos pés encolhem ao final do efeito da cafeína. Contrai os músculos, deixando doloridas a carne e as unhas.

Apesar de ser um exemplo de menina, a filha não perdoou nenhum dos colegas de sala ao final do colegial. Hormônios. Aos vinte e quatro conheceu o namorado. Hormônios. Aos vinte e cinco decidiu se casar depois de ter traído o seu homem. Gostou de trair, valeu o sexo. O bombeiro não sabia acender o fogo. Mas esse não era o objetivo.

Para ela o atendente da lanchonete é bom demais no que faz, mas não podia solucionar seus problemas financeiros. Não serve, não vale a pena. A frieza natural com a qual a filha lida com o amor foi repassada pelo leite até os dois anos de idade. Assim que largou os seios da mãe já podia caçar sozinha.

Dizem que deus não dá asa às cobras. Não acredito em cobras.

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