segunda-feira, 18 de outubro de 2010

pedras


Todo amanhecer era vago. O sol de cada dia, mais uma xícara de café. Não dava pra perder os velhos hábitos. No fundo ela já começava a esquecer e sem nem perceber morria. O filho não parava em casa, ela por sua vez já quase não saia. Feira, supermercado, pagar algumas contas e olhe lá. Já não valia a pena ver de novo nada que não fosse a sua televisão durante a tarde.

Rezava, chorava e dormia. Pedia perdão pelo que havia feito ao filho, amaldiçoava o antigo marido e se deitava no quarto frio e pequeno. Ela nem sequer se incomodava mais com os gemidos que vinham do quarto do filho quando enfim ele resolvia aparecer. Nem sequer se incomodava mais de acordar de madrugada ouvindo ele e a namorada discutindo ou simplesmente se consumindo na escada ou no banheiro. Ela nem sequer se incomodava com o cheiro daquele cigarro estranho que os dois gostavam de fumar ou com as muitas bebidas que tomavam fosse lá o dia que fosse.

Assim que eles saiam ela arrumava toda a casa de novo. Limpava os cinzeiros, catava as roupas que eles deixavam espalhadas pela casa, jogava fora as camisinhas e garrafas que surgiam em todo e qualquer lugar. Preparava o almoço e comia sozinha ouvindo o rádio. Não havia fuga, não havia forças. Lentamente ela abraçava o seu silêncio.

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