segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Em conserva




Saindo do bar tinha a certeza que de a galinha só enche o papo de gole em gole. Grão em grão é a forma como um escorpião vê um deserto. Com as pernas desajustadas tropeçou invertendo as noções de tempo e espaço, passando de cima para baixo e dentro de um turbilhão.

Viu um sapo grande logo à sua frente. Era grande. Era enorme. Lembrou-se das histórias que o pai contava sobre sapos gigantes em determinadas regiões. Calculou estar longe de casa, pelo que dizia o pai. Lembrou-se da professora de português com a cara oleosa e cheia de verrugas. Lembrou-se das críticas que levava por não querer ser da parte da turma do fundo da sala. No raso daquele barro, um sapo o fez viajar no tempo.

Os olhos cheios de areia, a cara poeirenta e o semblante do cansaço. Os pés e os braços fincaram no chão e o peso do corpo dobrou naquele momento. Teve vontade de chorar, mas dormiu antes. A tristeza era um sonífero, misturada ao álcool tornava-se infalível. É assim para muitos. Ele nunca foi exceção de regras.

Quando o sereno lambeu a cara, sentiu seu corpo rodar. Flutuar. Era sensação que tinha quando criança. A mãe o rodava segurando pelos braços. Até que um dia ele escapou das mãos da mãe. Até que um dia, escapou das mãos da mulher. Até que um dia e não se sabe como desapareceu e encontrou o futuro nos olhos de um sapo.

Acordou em uma cama próxima a um brejo, no meio de uma mata fechada.

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