domingo, 11 de julho de 2010

Com um rabo entre as pernas





A vontade foi maior que a razão naquele dia. Cedendo ao chamado do instinto foi ao puteiro que não era exatamente a sua especialidade. Lá podia extravasar a suas necessidades. Era lá que as mulheres ganhavam um sabor genérico de prateleiras. Isso o agradava. Ao menos era plástico e não amargo.

Exatamente naquela poltrona vermelha e sintética ele podia ouvir os mais variados elogios, as mais lindas declarações. Fosse pelo perfume, fosse pelo pinto ou pelo bolso. Era sempre a mesma coisa. Às vezes, se sentia culpado, mas com a cabeça cheia de si não pensava mais. O transe que aquelas músicas provocavam, ajudavam a sufocar a realidade juntamente às fumaças das bocas e do palco. O cheiro de talco e perfume vencido era uma droga viciante. E voltava. Inspirava o fecundo odor de genitálias.

Sentou. Olhou. Escolheu seu bife e pediu mal passado e rebolando, sem cebolas. A moça sentou no colo e disse um nome que era fruto de uma leitura das revistas de fofoca, dispostas na sala de depilação. Ele agradou do cheiro, sentiu profundamente um amor por aquele pescoço maternal. Cheirou, lambeu, mordeu, bolou o ensaio de um gozo. Parou.

Quando se desvencilhou da cabeleira oxigenada, olhou o par de olhos que não acreditavam no que viam. Seu sogro, pai de sua querida noiva, enfrentava um julgamento difícil. Seus cabelos desarrumados não demonstravam a seriedade contida no sofá da sala ou na cabeceira da mesa de jantar. Lembrou da noiva, lembrou da sogra. E não sentiu a lambida que levou ao pé ouvido. Era como um conselho molhado para os seus pensamentos tão áridos naquele momento.

O sogro olhou, acreditou no que via, mas impedido de olhar fixamente por seis nádegas que flutuavam entre os dois, desistiu. Os passos do urso com o micro rabo entre as pernas demonstraram o medo de ser um puto. O risco maior era o de perder o poder de apertar o controle remoto. Plim plim.

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