domingo, 4 de julho de 2010

Só um tapinha




Era o início da manhã, não tardava a movimentação nas ruas chegaria. Com os olhos ainda inchados pela bebedeira do dia anterior, não lembrava muito bem como havia chegado em casa. Lembra dos tubos de maionese jogados no chão, lembra de colocar a moça sobre o balcão e isso o fazia feliz.

O chefe viajou. Como diria a avó: o gato sai, os ratos fazem a festa.

O sorriso alternava com as fisgadas ao fundo dos olhos. Tateando as paredes buscou o sabonete que tinha cheiro de desinfetante. Tentou lavar a alma naquele banho. Tentou mais um orgasmo com a pouca lembrança. Vodca prejudica a masturbação no dia seguinte.

Nos passos que dava, cada um correspondia ao rosto de um cliente que iria enfrentar naquele feriado. O banho lavou a alma, mas deixou a verdade mais clara. Passou calçadas e rios de asfalto. O que havia no ar não era um cheiro, mas um mal estar crônico de liberdade.

Sacou a chave que tilintava como um sino de igreja. Cada movimento era uma badalada que anunciava o apocalipse no bolso. Abriu a porta e o cenário de um pornô barato o fez recobrar a consciência.

A mão pesou sobre os tubos.

A maionese tem suas funções: alivia a dor e tempera a vida.

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