domingo, 18 de julho de 2010

perdas e ganhos


Os gritos seguiam. Ele fumava na sala, quieto. Como se nem sequer estivesse ali. Tudo já estava resolvido, alguns amigos o haviam ajudado com as questões burocráticas da coisa. Alguns parentes ajudavam, ou pelo menos tentavam, com a questão sentimental da esposa. Ele tragava seu cigarro.

Pediu licença a todos, chamou um amigo próximo e o disse que necessitava de um momento. Compreensivo o amigo lhe cedeu ás chaves do carro, mas alertou sobre a hora em que deveria voltar. Haviam muitas formalidades a serem cumpridas, principalmente por ele. O pai.

Entrou no velho carro do velho amigo, girou a chave, abriu os vidros, engatou a primeira e saiu lento, desatento e confuso. Nem sequer por um minuto buscou alguma justificativa, nem sequer por um minuto ousou se culpar pelo que havia acontecido, nem sequer por um minuto deixou de pensar nas permissões que a situação lhe possibilitaria.

Pelas velhas ruas ele ia de cigarro em cigarro ouvindo as propagandas das rádios e as sirenes das ambulâncias. Ele ia em busca de algo que jamais encontraria e foi quando atingiu desatento os cento e quarenta quilômetros que pode perceber o que havia perdido.

Ele não precisava mais ter medo da vida, pois sua morte agora não deixaria incompleto nenhuma de seus trabalhos. A filha estava entregue e ele enfim podia se entregar a si. A derrota é o sinal de que outro jogo esta prestes a começar.

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