terça-feira, 6 de julho de 2010

velho punk




Mesmo quando o despertador não toca, ele levanta as seis. O corpo já se acostumou a isso. A mulher dorme feito pedra. Ele prepara um café. O silêncio é uma suave melodia, esse quase sempre é o melhor momento de seu dia.

Lê o jornal, vai ao banheiro, faz a barba, toma banho se arruma e sai. Mesmo que não tenha nada pra fazer, mesmo que não tenha pra onde ir. Caminha lentamente sem direção, ás vezes compra pão e leite, ás vezes para no ponto de ônibus pra assistir o tempo passar, ás vezes se senta na igreja e dorme na missa.

Hoje se sentou na praça, comprou um cigarro a varejo e ficou tonto enquanto tragava. Hoje ele se sente diferente, alguma coisa nele quer explodir, alguma coisa nele quer saltar, alguma coisa nele pede socorro. Um simples cigarro pela manhã, essa é sua forma de exteriorizar sua revolta e ao mesmo tempo de se recompensar por todo esforço que a vida lhe cobra.

Entre os tragos e sua paranóia ele vê a filha caminhando em direção de casa. Mas o que ela faz aqui? E á essa hora na rua? Deve estar espionando o pobre homem a mando da mãe. Ela vai contar tudo o que viu. Ele vai ser repreendido, punido! Rapidamente apaga o cigarro e se esconde atrás da banca de jornal. Ela parece não tê-lo visto, estava com a cabeça em outro lugar, nas nuvens talvez.

Ele se sentou novamente, mas não antes de ir á banca e comprar mais um cigarro. Algo florescia naquele homem.

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