domingo, 29 de agosto de 2010

Cobertura para o peso




O que aconteceu da vida alheia ninguém soube entender. Com a morte da filha algum sentido havia sido perdido e a sensação de um retorno ficou na cabeça daquela mulher. A volta da filha com seu corpo jovial que exibia atributos. Excitava e dilacerava. Conjugava em seu tempo e gênero, o que viesse a compor o momento.

Sempre desejou ter a idade da filha. Queria não cometer o erro de não se arrepender do casamento. Gostava de pensar na vingança da filha contra a sociedade. A autoconfiança que depositara na menina, ainda um bebê, fez com que o rebento fosse além do que conseguiu. Só de olharem para a sua filha como uma forma de observação sem maiores prejuízos faziam com que o trabalho de educação valesse a pena. Babas, pernas, perdas.

No início era só uma depressão. O vestido da filha sobre o corpo coberto de culpa aliviava a tensão da morte e a perturbação do desaparecimento do marido. Não que fosse importante encontrar o homem, mas atender o telefone era um ato doloroso desde a notícia da morte da menina. O problema era o telefone. Talvez Graham Bell fosse mais criminoso naquele momento que o marido. Mas a culpa precisava ser sempre do homem que devia ser sempre o cúmplice de tudo o que faz mal.

Vestiu aquela roupa ainda com cheiro da menina. O odor de mimos ainda resfriava no cabide. O jeito da filha aos poucos eram os modos da mãe. Quando a roupa que vestia caiu sobre os pés substituída rapidamente pelo vestido, o que restou foi o próximo passo. E a etapa seguinte era a caixa de maquiagens.

Toda dor precisa de uma máscara.

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