quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Energia eólica




Ser um homem nunca foi tão difícil. Na realidade nada era tão difícil, mas como a sua criação católica pesava como uma cruz sobre os ombros, a situação era dolorosa. Mesmo que pudesse sorrir. Era isso ou o contrário, ele via a inversão em espelhos e vidros que o cercavam.

Quando o rádio anunciou a hora de retorno, deu meia volta. Parou o carro, saiu, sentiu o ar quente do fim de tarde e mijou na roda do carro. Acendeu um cigarro, depois outro e entrou novamente. A hora e o retorno não faziam sentido naquele momento. O sentido era somente o contrário de tudo.

Girou o volante com a mesma vontade que virava a sua vida. Sentiu que o medo e a razão são só conceitos e de palavras ele já estava cheio. Queria sentir a degradação lenta que a idade reservava. Pretendia organizar a vida como o velho lema do presidente-sorriso, “cinquenta anos em cinco”. E a adrenalina subia com o ponteiro do velocímetro. Novamente cento e quarenta quilômetros. Novamente a vida.

As placas eram luminosas no anoitecer, os postes acesos eram sinais de que o caminho era certo. O pé pesava como o corpo em um gozo dolorido, duzentos quilômetros. A cruz caiu. Um vulto sobre o capô acompanhado de um som abafado. Atropelou a própria consciência e seguiu em frente.

Bem vindo, volte sempre.

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