quinta-feira, 5 de agosto de 2010

zumbilândia



Era tarde e todos começavam a ir embora. Do lado do caixão só ficavam as duas a penar as perdas. Duas velhas senhoras de olhos marejados e em absoluto silêncio. Nada se dizia e todos os movimentos pareciam terremotos a sacudir o corpo flácido das duas ex-avós.

O olhar fixo no chão, os cumprimentos cheios de má vontade e negação. Elas queriam fingir que nada daquilo era real, mas a dor doía fundo no peito daquelas duas mulheres. Duas vidas, duas vidas que se foram sem nem bem ter sido. Quatro vidas que se estraçalharam como ovos ao chão. Elas esperavam por aquele momento, netos, a certeza de que se viverá plenamente, a paciência de desvendar o mundo a outra vida. A dor era insuportável.

Talvez fosse por isso, elas não sabiam o que fazer. Não queriam ter que fazer mais nada. O ar fugia de seus pulmões enquanto as lágrimas desciam sem nem sequer serem notadas. Elas desidratavam suas almas em pranto.

E o que fazer dali pra frente? Pra onde ir? O que buscar? Não havia mais sentido. Não havia mais expectativa, não havia solução ou sequer consolo. A morte de dois era a morte de muitos. Esperar seria a única certeza delas. Esperar e rezar pela alma dos que se precipitaram.

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